Os 5 R’s

Num outro dia conversava com uma amiga acerca de ecologia. Há tanto que podemos fazer com tão pouco. Por isso, é com grande expectativa que desejo que o seu projeto chegue a bom porto. Mas no decurso dessa conversa referimos os famosos 3R's ecológicos

Reduzir | Rutilizar | Reciclar

Recordo-me das aulas de Energia e Ambiente na Universidade de falar que esta ordem de palavras exprime também uma ordem de precedências destas ações. Porém, achei muito interessante quando esta amiga falou-me num 4º "R".

Recusar

Lembrei de uma experiência no âmbito de um projeto Europeu de Aprendizagem ao Longo da Vida (os projectos Grundtvig) chamado Eco-Navigation onde partilhou-se que os alemães, como idealistas, preferem pagar mais por um produto que seja biológico e do qual conhecem a origem, do que um produto mais barato com menos qualidade. Podemos não ser idealistas como os alemães em termos culturais, e procurar sempre o produto mais barato nas prateleiras do Hipermercado, mas quer isso dizer que as nossas possibilidades financeiras limitam a nossa escolha? Se não podemos recusar o que é mau seremos realmente livres de escolher o melhor? De facto, não é fácil viver este recusar, mas também não me parece que a solução passe por serem as nossas possibilidade financeiras que determinam as nossas escolhas, mas antes a pouca ginástica da nossa criatividade.

Um exemplo. É evidente que cada vez mais pessoas compram comida pré-feita. De um momento para o outro essa secção cresce exponencialmente nos Hipermercados. Notaram? Será porque as pessoas não têm tempo para cozinhar? Ou imaginação? Basta ver programas como o Masterchef Australia, ou seguir críticos como o Matt Preston no Facebook para perceber como se pode fazer um prato excepcional com pouco e rapidamente.

Ou seja, Recusar nada tem a ver com uma postura negativa de protesto, mas uma atitude interior pró-ativa de pensar bem antes de consumir e estimular a criatividade humana que encontra por vezes soluções simples para desenvolver um estilo de vida mais ecológico.

Mas há um 5º R.

Relacionar

Proteger o ambiente, cuidar da Terra, não chega. Se não houver um relacionamento com o que pretendo proteger e cuidar, não desenvolvo a sensibilidade necessária para fazer a diferença. O desafio é: que relacionamento com a natureza?

Quando pretendo aprofundar um relacionamento com outra pessoa, o que faço? Passo tempo com ela. Interajo. Contacto-a para dialogar um pouco. Interesso-me.

Não é diferente com a natureza.

Passear pela natureza, interagir e contemplá-la, conhecendo-a através do deslumbramento que a ciência nos leva a experimentar, são modos de aprofundar esse relacionamento.

A cultura hodierna tecnológica e urbana configura o ambiente que nos circunda como centrado em nós próprios. Os jardins existem para eu os visitar, os animais são expostos para meu entretenimento, as pistas num parque são cuidados para que eu possa fazer neles exercício. Que noção de ambiente temos senão algo exterior a nós do qual cuidamos para poder usufruir? Um relacionamento com alguém ensina-nos a paridade, de tal modo que o outro não está acima de mim, mas ao meu lado.

O que significa um relacionamento de paridade com a natureza?

Como podemos encontrar o seu lugar nos nossos relacionamentos?

Se usufruímos da natureza porque essa faz-se "dom" para nós, como retribuímos sendo "dom" para a natureza?

Não penso que sejam questões fáceis de responder, mas se há algo que nos distingue (não separa) da natureza é a criatividade. Logo, a forma de encontrar respostas é simples.

Ser criativo 🙂

Mãe Terra?

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Recentemente ouvi a experiência de um leigo missionário que se referia à mãe Terra. E quantas referências não houve a seguir a essa confirmando o uso da expressão. Mais tarde, ouvi outra pessoa que citou G.K. Chesterton sobre esse chamar de mãe à terra. Dizia Chesterton que “a questão principal do Cristianismo era esta: a natureza não é nossa mãe, a natureza é nossa irmã. Podemos-nos orgulhar da sua beleza, pois temos o mesmo pai; mas ela não tem nenhuma autoridade sobre nós; temos de admirá-la, mas não imitá-la.” Curioso.

Será que Chesterton tem razão?

Bom, pensei na recente encíclica da Laudato Si’ do Papa Francisco. Recorda ele logo no n. 1 o Cântico das Criaturas de São Francisco «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras» e depois no n. 92 que “Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe terra.”

E agora? Para São Francisco a Terra é mãe e irmã. Para o Papa Francisco não há qualquer problema em se referir à mãe Terra. Qual é, então, o problema de Chesterton? Eu diria que é a noção de mãe da época. Eventualmente a de uma pessoa que tinha autoridade sobre os filhos e a quem esses deviam imitar, ao passo que hoje a noção de mãe é mais próxima da de Maria. Em vez de autoridade, Maria dirige o nosso olhar para da verdadeira Autoridade, Jesus. Em vez de imitá-la, admiramo-la, pois ao cantar “quero ser como tu, como tu, Maria” estamos, de facto, a dizer que queremos ser e não parecer.

Como a Terra é parte do Universo, e esse é a linguagem através da qual Deus nos fala, contemplar a Natureza pode levar-nos a fazer uma experiência de Deus, da Sua presença. Logo, dirigindo o nosso olhar para Deus. Por outro lado, não faz muito sentido imitar a natureza, quando – de facto – somos natureza. Neste sentido, admirar a natureza não é dissociável de fazer uma experiência da presença de Deus através dessa. E assim se completa o ciclo, dando sentido e significado à expressão “mãe Terra”.

“O que fazer à interpelação de Chesterton?”

Atualizar. “E isso significa …?” Não sobrevalorizar o papel materno ao fraterno, nem o fraterno ao materno, pois, não descurando que a Terra é nossa irmã significa reconhecer que todos fazemos parte da “família da criação” e

só incluindo o mundo natural

podemos alguma vez tornar real

o ideal

de uma fraternidade universal.

COP 21

Inicia-se hoje (30 de novembro 2015) o COP 21, a 21ª edição da “Conference of Parties” que reune mais de 190 países para chegar a um acordo em relação ao contributo que cada país pode dar para mitigar a acção antropogénica sobre os gases com efeito de estufa associados às alterações climáticas.

O que esperar?

Compromisso.

Essa é uma palavra-chave que importa redescobrir o seu sentido e significado nas mais variadas áreas da vivência humana. Serão os chefes de estado capazes de ver o país do outro como o próprio? O progresso do outro como o próprio? Bastaria viver bem a Regra de Ouro

“Faz aos outros o que gostarias que fosse feito a ti” ou

“Não faças aos outros o que não gostarias que fosse feito a ti”

para que os efeitos se fizessem sentir.